Blog por Marcia Denardin

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

RADIALISTA FALA SOBRE CARREIRA E ESCLEROSE MÚLTIPLA

Oi gente, tudo bem?


Faz tempo que não escrevo, estive envolvida com uma cirurgia de catarata no meu pai, e os cuidados pós-operatórios, fiz duas viagens e acabei deixando o blog um pouco de lado. Mas postei algumas coisas na página do blog no face, podemos nos falar por lá também.


Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês uma matéria que o jornal Diário de Santa Maria, através do querido Lorenzo Seixas, publicou no último final de semana de novembro. Eu recebi a matéria como um presente de aniversário, sim, porque meu aniversário foi no dia 14 de novembro. Gente, eu adoro aniversários, quase tanto quanto gosto de natal e ano novo.


Vou colocar a entrevista toda aqui, mas se quiserem ver no site do jornal, podem acessar o link abaixo.


Um beijo grande e até mais.


Radialista fala sobre carreira e esclerose múltipla: Aos 48 anos, Marcia atua como radialista desde os 17 e convive com a esclerose desde os 33



com a palavra

Radialista fala sobre carreira e esclerose múltipla

27 Novembro 2017 00:00:00

Aos 48 anos, Marcia atua como radialista desde os 17 e convive com a esclerose desde os 33

Mãe incansável e guerreira, Marcia Denardin, 48 anos, é uma contadora de histórias por natureza. Figura presente na radiodifusão santa-mariense há quase 30 anos, Marcia apresenta, de segunda a sexta, o programa Realidade, nas manhãs da Rádio Guarathan. Em entrevista concedida ao Diário, a mãe de Fernando, 22 anos, Rafael, 21, Léo, 17 e Júlia, 16, expôs uma das histórias mais bonitas de sua coleção: a própria. A jornalista e brigadiana viu uma ascensão profissional meteórica, na década de 80. Depois, viveu um período difícil, causado pelo diagnóstico de esclerose múltipla, na década de 2000. Sem se deixar abalar, passou a dividir suas experiências pelo blog Vivendo Além da Esclerose.
Diário – Como foram os primeiros anos da Marcia Denardin? 
Márcia Denardin –
 Fui criada no Bairro Nossa Senhora de Lourdes,aqui em Santa Maria, pelos meus pais Oreste Denardin e Edecy Denardin. Moro aqui até hoje. Foi uma infância bem legal, de subir em árvore, brincar de polícia e ladrão. Tínhamos uma pitangueira por aqui, e subíamos nela. Era a nossa nave espacial, e nela viajávamos por mundos e universos, por meio da imaginação. E realmente acreditávamos nisso, porque descíamos da árvore cansados, como se realmente tivéssemos viajado. Como era diferente a imaginação da gente na época. O mundo virtual de hoje, era na nossa cabeça. Estudei nas escolas Dom Luiz Victor Sartori, Nossa Senhora de Fátima e terminei no Maria Rocha, onde descobri o amor por handebol.
Diário – Como surgiu a vontade de fazer radialismo? 
Márcia – Fiz vestibular para História e Direito, mas sempre gostei de rádio. Eu escutava muito a Rádio Cultura, que tinha o programa Cultura Nativa, com o Norton Cesar. Eu tinha um namorado, na época, que,assim como eu, gostava muito de nativismo. Íamos a todos os festivais juntos. Aos 17 anos, fui à Rádio Guarathan, falei com Cláudio Zappe, um dos diretores da época. Falei que não tinha experiência, mas gostava e conhecia muito sobre nativismo e que adorava rádio. Ele me fez umas perguntas sobre nativismo. Na época, a rádio ia a todos os festivais e naquele fim de semana ia ao Candeeiro de Restinga Seca. Propuseram-me um teste lá, para ajudar na cobertura. Fui bem e, na segunda-feira seguinte, assinaram a minha carteira. A partir disso, fiz o curso de locutora, radialista, entrevistadora, animadora e apresentadora de rádio e televisão.
Em 2003, Márcia aos 34 anos, com os filhos.
Em 2003, aos 34 anos, com os filhosFoto: Marcia Denardin / Arquivo Pessoal
Diário – E como foi começar na rádio aos 17 anos? 
Márcia –
 Comecei na produção. Depois, recebi um convite da Rádio Medianeira para fazer um curso direcionado para apresentação de rádio. Acabei sendo convidada a trabalhar lá. Depois, recebi um convite do Sindicato dos Professores Universitários para a Rádio Universidade até retornar à Rádio Medianeira, para a cobertura das eleições de 1988. Enquanto contávamos os votos no CDM, um diretor da RBS me observou. Ele me indicou para fazer um teste na emissora, que estava precisando de repórter de TV em Uruguaiana. Passei, e fui para lá, aos 20 anos.
Diário – Saiu de Santa Maria e ganhou o Rio Grande do Sul? 
Márcia – 
Foi um tempo bom. Lá, acompanhava as atividades e rondas da Polícia Civil. Na época, abriu um concurso para a Brigada Militar, fiz, passei e resolvi fazer o curso. Larguei a televisão e voltei para Santa Maria para cursar. Passado um ano, me formei, e fui comandar o policiamento feminino na Festa da Uva, em Caxias do Sul. Depois, fui para Porto Alegre, de 1991 a 1994 e fiz Jornalismo na Ulbra, em Canoas. O Coronel Maciel me convidou, já grávida, para trabalhar com ele na Justiça Militar. Em 1994, assustada com a violência da Capital, pedi transferência para Santa Maria, onde tive meu primeiro filho no Hospital da Brigada Militar de Santa Maria, onde também trabalhei. Depois, fui para o 1º Regimento, trabalhar na Comunicação Social. Trabalhei um tempo lá, fazendo Operação Golfinho. Chegava a dar boletins diários para as rádios do Interior e Capital. Um dia, voltando para Santa Maria, descobri a esclerose múltipla após sentir os sintomas.
Em 2013, na Dinamarca. Na foto, guarda do palácio da Rainha e Marcia.
Em 2013, na Dinamarca, com um guarda do palácio da RainhaFoto: Marcia Denardin / Arquivo Pessoal
Diário – Como a esclerose foi diagnosticada? 
Márcia –
 Em 2002, estava dando papinha para a minha filha, Júlia, que tinha seis meses, e senti dores muito fortes. Fadiga e perda de forças. Meus médicos não sabiam explicar. Meu comandante, o capitão Worney Dellani Mendonça, hoje coronel, sabia que eu não era de mutreta. Não tinha forças para carregar o colete de brigadiano. Tinha muita dor de cabeça e não havia diagnóstico para isso. Um dia, cheguei com muita dor em Porto Alegre e fiz exames. Na ressonância apareceram as letras: EM. Um dia, escutando rádio, ouvi uma entrevista com Dr. Juarez Lopes, meu médico hoje. Consultei com ele, que desmitificou minhas dúvidas sobre o estado vegetativo e outras questões. Disse-me, também, que na Brigada eu não podia mais trabalhar. Naquele momento, com a doença ativa, eu precisava ser internada. Passei por um período horrível. Foram 50 internações entre 2002 e 2013. Fiquei sem andar, andei de bengala e de cadeira de rodas. O diagnóstico veio em 2004 e, ainda assim, veio cedo.
Diário – E como foram os anos de recuperação? 
Márcia – A vida segue. Em 2010, comecei a trabalhar na Associação dos Portadores de Esclerose Múltipla de Santa Maria e Região (Apemsmar). Meu médico sugeriu o convívio com outros pacientes. Demorei a ir porque achava que iam falar somente de tristeza e doença. Enganei-me. Fui diretora da comunicação social, fizemos eventos de conscientização, e tivemos ajuda do pessoal da música, do futebol. Através da Apemsmar, colocamos o gilenya no SUS, uma medicação nova. Foi essa medicação que me deixou bem como estou hoje. Por esse trabalho na instituição, vieram convites para viajar, para falar sobre a doença. Eu me sentia útil fazendo comunicação social na instituição, em prol de algo positivo. A esclerose não é doença de velho, é a segunda doença que mais tira jovens do mercado de trabalho.
Diário – Aí veio o retorno à Rádio Guarathan? 
Márcia – 
Eu acompanhava o grupo musical Sambô, parceiros nossos na campanha pela liberação do gilenya. Em janeiro de 2014, eu estava em Rio Grande, em um show deles, quando o Renato Oliveira me ligou e me fez o convite para cobrir as férias do Leonel Colvero na rádio. Eu achava que não conseguiria, mas o Renato me incentivou a ficar esse mês no Realidade. Depois, surgiu o convite de ir para lá, agora, em definitivo, porque o Colvero ia se aposentar. Consegui a abertura de transformar o programa Realidade mais voltado a minha realidade, falando sobre a esclerose e outras notícias. Fazemos todos os anos um programa especial para o Dia da Esclerose Múltipla. Não posso separar a Marcia comunicadora da Marcia cidadã e esclerosada.
No restaurante Biroska, com os filhos e a nora, em novembro de 2016.
Em momento descontraído, com os filhos e a nora, em novembro de 2016Foto: Marcia Denardin / Arquivo Pessoal
Diário – E como é olhar para trás e ver a doença superada? 
Márcia –
 É maravilhoso! Hoje, não tenho problemas, fora fadiga. Se eu controlar, está tranquilo. Posso usar salto, dirigir e viajar, que são atividades que eu adoro. Subo, diariamente, 60 degraus para chegar à rádio (risos). Eu contei! Hoje, posso aproveitar meu amor por música, ir a barzinho, que amo. As pessoas mais importantes pra mim são meus filhos. Assistimos séries juntos, vamos ao cinema juntos, temos os mesmos gostos. Me sinto uma pessoa, não digo merecedora, mas eu fui agraciada. As coisas mais simples alimentaram minha felicidade, como jogar videogame com um filho, bola, poder passear, coisas que me foram tiradas nesses anos que fiquei no hospital. A felicidade às vezes está tão perto de nós, e às vezes não enxergamos. Tomar um mate com alguém é mais prazeroso que ganhar na loteria.
Diário – Dê um recado para quem foi diagnosticado recentemente. 
Márcia – 
É só mais um diagnóstico. É só mais uma coisa a ser superada. É só mais isso. A vida não terminou e a gente melhora muito, como pessoa, depois de um diagnóstico desses. Não se apavorar. Tem um nome feio, mas não é tão feio assim.